O professor Catedrático Jubilado Cândido de Oliveira leccionou as cadeiras de Direito Administrativo e Administração Pública na minha Universidade do Minho e assisti às suas aulas durante todo o meu curso. Não por gosto, mas porque teimava em chumbar em todos os seus exames escritos e apenas quando conseguia uma exame oral havia probabilidade de sucesso. A sua cadeira foi a última que tive de fazer para terminar a licenciatura.
Os exames escritos corriam bem a todos os alunos... até sair a nota: Oito e nove era o normal onze e doze era raridade.
Tentávamos tudo de grandes manuscritos a pequenas súmulas, de hiper-palheiros épicos a nano-agulhas resumidas, de monos burocráticos a autênticas peças literárias, mas nada resultava, o espectro avaliativo não mudava e, no meu caso, o caminho para a oral era fadado.
Eu, o Victor de Braga e o José da Povoa estávamos sentados junto ao Gabinete do Cândido, revíamos o último exame escrito que seria a base do exame oral que nos esperava de Direito Administrativo. Tinha estudado e tinha respostas para todas as perguntas excepto para a quarta e última.
- Zé, sabes a reposta para a pergunta quatro?
- Não, não encontrei nada nos apontamentos.
- E tu Victor, sabes?
- Não, também não encontrei nada.
- Pah, estamos "prejudicados" e bem "prejudicados".
O Cândido abriu a porta do gabinete:
- Bom dia.
- Bom dia.
- Querem fazer o exame à vez ou todos juntos?
- Tanto faz.
- É igual.
- O professor é que decide.
- Então entrem todos.
O Cândido iniciou a oral perguntando primeiro ao Victor, depois ao Zé e finalmente a mim, sempre nesta sequência. Há duas versões diferentes do que se passou nas três primeiras perguntas. A minha: os meus colegas não sabiam responder e eu sabia. A dos meus colegas: eles respondiam de forma incompleta eu juntava tudo o que eles diziam e respondia de forma completa.
O resultado final foi que ao fim da terceira pergunta, eu dei a respostas todas certas e fiquei a pensar - agora vem a quarta pergunta e vou-me "prejudicar" forte e feio.
E assim veio a quarta...
- Não sei - disse o Victor.
- Eu também não - confirma o Zé.
- Bom - sentencia o Cândido - penso que não vale a pena continuar o Victor e o José vão ter que repetir a cadeira no próximo ano e o Rui tem um dez como nota final - e faz uma pausa.
Nunca a expressão "salvo pelo gongo" me pareceu tão apropriada, já estava a descomprimir quando...
- A não ser que - termina a pausa - O Rui queira responder a esta pergunta para subir a nota para doze.
Não tenho palavras para descrever a cara que o Cândido fez quando lhe respondi que não valia a pena, cheguei a pensar que ele ia voltar atrás e chumbar-me, mas não. Direito Administrativo ficou feito faltava Administração Pública.
https://www.youtube.com/watch?reload=9&v=A1RkcBlAqmU
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