O meu curso ia ser reestruturado esse ano, o curso de Administração Pública Regional e Local terminava e era substituído pelo curso de Administração Pública. Corria o risco de passar para o novo curriculum. Para garantir o canudo tinha de fazer a cadeira do Cândido com o mesmo nome do curso: Administração Pública.
O Paulo de Esgueira morava no mesmo apartamento que eu. Entrou na U.M. no ano em que abriu o seu curso e conseguiu ser o primeiro aluno a terminá-lo. Fez uma festa lá em casa. Eu queria também a minha festa por ser o último aluno a terminar o meu curso.
O Paulo era bom aluno mas também nasceu com o rabo virado para a lua. Numa época de exames tinha duas provas em dias seguidos, só estudou para a primeira. Para a segunda prova tinha oito matérias diferentes para estudar numa tarde, estudou três. Em cinco perguntas saíram as três matérias que ele estudou e fez as duas cadeiras. Quando terminou o curso começou logo a trabalhar, mas continuou a viver lá em casa. Saía de manhã e deitava-se cedo. Nunca o via. A nossa comunicação era através de bilhetes.
Uma vez chegou pelo correio um pré aviso de corte da água por falta de pagamento. No dia a seguir quando acordei tinha um bilhete:
"Irresponsável, eu não tenho tempo de tratar destes assuntos, vai pagar que eu não posso ficar sem água para o banho. PORQUE EU TRABALHO."Também lhe deixei um bilhete:
"A água nesta casa acabou. O banho agora é com vinho, preferes branco ou tinto?"O bilhete que o Paulo me deixou como resposta não o vou transcrever. Implicava uma prática sexual para a qual não me sinto inclinado, metafórica e literalmente falando.
Bom, entretanto o senhorio até já tinha pago a conta e a água não faltou.
Obviamente, como esperado, não passei no exame escrito, mas com nota nove dava para ir a oral e lá fui com tudo estudado pela enésima vez.
Entrei no Gabinete do Cândido ele pediu-me para sentar. Lá estava eu, desta vez sozinho. Passou-me um molho de exames doutra cadeira e pediu-me para lhe ler os nomes e dizer a nota. Lá fui dizendo fulano nota x, sicrano nota y e ele ia apontando no mapa dele. Quando acabou, abriu um grande sorriso e perguntou-me:
- Então Rui... há quanto tempo está a tentar fazer a minha cadeira?
- Não lhe sei precisar professor, uns bons anos.
- Pois... olhe tem um dez pode ir embora.
Desta vez não me prejudiquei e fui para a festa.
Só para terminar, sempre apreciei o Professor Cândido de Oliveira, apesar da dificuldade que tive para fazer as suas cadeiras. Um bem haja para ele.
https://www.youtube.com/watch?v=ttEMYvpoR-k